Sublime, nos diz o
dicionário, é algo “elevado acima de todos; muito alto; excelso; grandioso,
extraordinário, majestoso”. Sua acepção mais comum parece não fugir a esse
conceito, tendo sido o termo objeto de estudo por parte de diversos filósofos e
poetas ao longo da história. Inicialmente, surgiu como categoria fundada na
Estética, esparramando-se pelo mundo e germinando renovadas interpretações de
seu próprio núcleo-sensação. Se a Estética tem origem na faculdade do sentir
(do grego aisthesis), nada mais consonante que o sublime seja fruto de um
profundo sentimento, arrebatadora sensação que retém nossa atenção e se
desdobra como síntese do encanto de um momento.
Diferentemente do que é
belo, que julgamos de maneira assertiva, o sublime nos causa estranheza,
perturbadora incapacidade de significação. É estranho porque sentimos e, muitas
vezes, o sentir é da ordem da “desrazão”. Não que sejamos tolos ou inaptos a
avaliar sentidos e proferir juízos, mas, sabemos, estamos a falar das coisas do
coração. A partícula estranha do sublime foi, em tempos imemoriáveis, percebida
pelo homem quando notou que tudo existia, sem com isso atingir uma compreensão
desse existir.
O tempo passou e o
discurso humano erigiu tratados, comentários, canções sobre o sublime.
Afeiçoados, talvez hipnotizados por essa estranheza, passamos a olhar um mundo
- e as criações do mundo - sob uma perspectiva subliminar, onde o que é
inefável recebe o título de sublime. A despeito de verdades, ciências e
observações, percebeu-se que estávamos de frente para algo em constante
atividade, mutação, como o sol e a lua, naturalmente sublimes. E por isso mesmo
eles nos distraem e atraem. Antes colocada à margem da cultura na célebre
dicotomia cultura/natura, a natureza seguiu instaurando e exigindo o fim dessa
cisão. Afinal, somos com,em e na natureza.
Como, então, avistar do
mar o recorte verdejante e montanhoso da paisagem carioca sem ser impelido a
desvelar cada grotão, cada encosta, cada fonte de água límpida desse recanto?
Era inevitável que achassem se tratar de uma Eldorado. E, uma vez em contato
com seu conteúdo, não haveriam de retornar à distância segura onde a forma se
apresenta em plenitude? É de longe que podemos admirar o todo, mas é de perto
que percebemos os detalhes. É de perto que vivenciamos a dureza e a beleza da
labuta, o dia-a-dia, mas é de longe que contemplamos desencontros e harmonias.
Por analogia, o Rio é
sublime, pois o movimento que engendra essa dinâmica de afastamento e
aproximação se revela no cotidiano carioca. Cada esquina citadina avistada do
Corcovado ganha novos contrastes e contornos quando as percorremos diariamente,
passeando ou do trabalho retornando. O mosaico de pedras portuguesas na orla de
Copacabana, quando o observado do alto do Pão-de-Açúcar, ganha nova dimensão. A
alegria contagiante do folião que aguarda a brincadeira anual faz coro com o
mar de gente que prossegue cantando pelas ruas e avenidas da Cidade Maravilhosa
quando chega o carnaval. De perto um grão de areia, de longe uma senda
litorânea de encher os olhos dos mais exigentes viajantes.
O Rio é verde, é azul, é
toda cor. O Rio é mistura de sentimentos, de realidades, de versos de amor. O
Rio é verbo do qual dispõem muitos sujeitos no agora. Sujeitos a encantos e
prazeres, eu, tu, ele, todos nós rimos juntos ou em breve reflexão descobrimos:
“eu RIO a toda hora”. E replica em conjunto uma nação: “Eu amo o Rio”, “Eu-amo-o-Rio”...
“Eu amo e Rio”...
Parabéns ao Rio de Janeiro
pelos 447 anos de vida!
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