15 de dez. de 2008

Do Livro do Mundo II

Há muito tenho ouvido falar do medo inefável que assola a Humanidade. Sem rosto e sem paradeiro, o monstro invade os recantos mais profundos e inconscientes do ser. Balbuciando temores ao ouvido alheio, desperta a loucura e edifica sentinelas do novo despertar. E os que não dormiram se encontram sonolentos e temerosos com o futuro que os aguarda. Por todos os lados a pergunta não cala e clama por apaixonados instigadores: "Qual futuro nos está reservado?". Pode o Sol orbitar sem pensamentos? Pode a gênese de um novo tempo ser talhada sem a alma e o coração? Pode a pergunta responder a essas questões? Não! Não pode! O único intuito da indagação é reabrir o caminho das possibilidades - o seu comprometimento é com o devir. Como já nos foi sinalizado, "o conhecimento é um salto no escuro" - não há elucidação, não há claridade, não há caridade do tempo com a verdade. Só movimento e expansão. E mesmo cônscio da realidade, me atiro no abismo - um arremesso aos sonhos esquecidos. A imobilidade configura minha queda, pois não há gravidade que resista a tamanho e incerto deserto – do cume ao chão o espaço se fragmenta, mas sinto o vento em meus cabelos. E, como um Eleata contrariado, vou absorvendo a evolução – o medo inefável cresce. E junto a ele, a certeza de que um futuro, muito além de nossa capacidade, em sua peculiar opacidade, é impossível de se contemplar – o futuro só nos chega para presentificar.