23 de dez. de 2006

::TESTEMUNHA OCULAR::

OLHEI PRO CÉU,
VI PÁSSAROS A VOAR,
ANTES QUE O SOL SE PONHA PROCURANDO O LUGAR...
ASAS ABERTAS, HORIZONTE INFINITO
NUM CANTO DA MATA O LAR CULTIVAR.
OUÇO O CANTAR DAS AVES
NAS DENSAS NUVENS, NOS CONTRATEMPOS,
SÃO SUBLIMES ORNAMENTOS
E NEM MESMO O TEMPO PODE APAGAR.
NÃO HÁ TRISTEZA NO AR...
SÓ HÁ VESTÍGIOS DE VIDA,
DA RIQUEZA DA ALMA,
DA NATUREZA GARRIDA.
E DAQUI QUERO LEVAR IMPRESSÕES,
POIS DE UMA FORMA OU DE OUTRA
ERA EU QUEM QUERIA ESTAR LÁ;
NO CÉU A VOAR...
MAS ME BASTAVA OLHAR...
"TESTEMUNHA OCULAR"
(imagem: KRSNA ART)

16 de dez. de 2006

Depois dos aguilhões vieram as tumbas e os sarcófagos

Até o padre que amava o Papa, em segredo, revelou-se um desconhecido em meio à multidão. Por dentre as várias teias, escorregava pra dentro do Tempo e assimilava pouco, devido ao grande turbilhão, o que lhe era passado. E foi naquele presente absoluto que o futuro não mais se sucedeu...
Estagnado. O corpo petrificado. A alma como se tivesse sido suja por um decante ou um lapso de visão. Não acreditava no que o momento e o tear do Tempo traziam em nós atados; idolatria e decepção.
O Mundo agora está fadado ao limiar da Santa Ceia? O veneno que jorra do ventre da Terra - a Mãe e a Guerra - não nos reserva mais o futuro e a ambição? Os novos rumos e velhos erros não serão novamente cometidos?
De tudo que se sabe hoje é legado. De certo ou errado, tentado no passado. E o caminhante disso sabia e, quando se defrontou com seu destino, resignado, partiu dessa pra uma melhor.
Não foi nem suicídio, eutanásia e muito menos o veneno do aguilhão.
Foi seu poder de se encaixar à época...
(agradecimentos a Alessandro Rochinha)

9 de dez. de 2006

Os Aguilhões

OS AGUILHÕES
Grito de dor a plenos pulmões!
“Cérebro entrecortado; acordo e durmo parado.”
Me suga a energia com o poder da TV
Monopoliza mente, corpo, alma, o ser
Me ensina a fazer, ensina a aprender
Me faz vegetal, me ensina a querer
Regra minha trilha! Ó Mestra da Ilusão
Que pouco a pouco as horas vão
*
“Cérebro pasteurizando; acordo e durmo babando.”
Me faz imbecil, sem eu saber
Me engana que eu gosto, faz perceber
Se mostra pra mim como único meio de comunicação
Já quase perdido, me espeta o aguilhão!
E injeta veneno nas minhas veias
Me amarra travado nas tuas teias
Regra garrida; minha vida insana
Minha vida insensata, vida mundana
Minha vida prostrada, minha vida parida
Minha vida inventada, vida vivida
*
“Cérebro sucateado; acordo e durmo sentado.”
Me compassa o tempo, que eu compasso o pensamento
Me diz pra onde vai o vento, qual meu direcionamento?
Me surrupia por debaixo do pano
Me convence do erro, potencializa meu engano
Faz a flor parecer mais fria
A cor desaparecer dos cantos
Os cantos não mais terem rimas
As rimas perderem o pranto
Os prantos perecerem de dor
E a flor ficando mais fria
O dia perdendo energia
Os contos, o sabor
*
“Cérebro desintegrando; acordo e durmo babando.”
Me faz relutar, embaça meu ar
Me faz eu despir, pedir pra sair
Me fecha a janela e torce o cano
Deturpa o momento, me envolve no plano
Acorda os morcegos com a alta freqüência
E entedia os finais de semana
Dia após dia; eu gosto, me engana!
*
“Cérebro pulverizado; acordo e durmo pregado.”
Imaginário sublimado
Grito a plenos pulmões
“Filha da puta esses aguilhões!”

2 de dez. de 2006

HILOZOÍSMO*

LER NÃO É APENAS LER;
ENTENDER AS PALAVRAS NA ORDEM.
LER NÃO É APENAS RELER;
E DESFARZER UMA POSSÍVEL DESORDEM.
LER É FAZER CORRELAÇÕES,
LER É DISSECAR ENTRELINHAS,
É CONTAGIAR O PENSAMENTO
AO INFINITO CAMPO DO CONHECIMENTO...
LER É COLOCAR SENTIDO NAS COISAS,
É CRER QUE EXISTE VIDA NO VIRAR DA PÁGINA,
QUE EXISTE HISTÓRIA NO ABRIR DO LIVRO;
É PERMITIR DESFOCAR O OLHAR DO ÓBVIO...
LER É DESATAR NÓS DA FALTA DE ENTENDIMENTO,
É COMPASSAR TESÃO E O CARDÍACO BATIMENTO.
LER É SER NO MUNDO!
LER É SER DO MUNDO!
É FUNDAMENTO BÁSICO PARA A MANUTENÇÃO DAS CRENÇAS...
É NÃO SÓ INDAGAR SOBRE A EXISTÊNCIA,
MAS ENTENDER GRANDE PARTE DA ESSÊNCIA
DE QUE LER É REGER E REFORMATAR O PRÓPRIO TEMPO...
(*doutrina que atribui à matéria qualidades espirituais)

25 de nov. de 2006

O RESSONANTE

No calor dos 44 graus entrei na sala que refrigerava...
No barulho dos motores que faziam rodar a maquinaria, se fez o som...
Ruíam todas as paredes do ambiente...
Dos ventiladores brotava o nó que se dava no ar,...
e voar...
Das janelas latejavam vibrações...
e tais pulsações eram fartas
e tais pulsações eram vidas, queridas...
Alegre e tonal;
no compasso daquele gênero musical...
E viva Hermeto Pascoal!!!

18 de nov. de 2006

SEIN UND ZEIT*

POESIA QUE ENCONTRO NA ARTE
MUDA NA FORMA E NO JEITO D´EU CONT-ARTE
MOVIMENTOS SOBERANOS DA PALAVRA
ESCRITA ASSIMÉTRICA, DESENVOLTA E GALÁCTICA
*
LUZ, SOL, É O ABRAÇO DIVÍNO
DA MINHA PERCEPÇÃO EM QUE NASCE GENUÍNO
O ENTENDIMENTO DO MUNDO QUE ME COMPREENDE
COMO O MUNDO ME ENTENDE? O PENSAMENTO FLUINDO
*
JÁ NÃO TENTO MAIS SAIR POR AQUELA PORTA
E MINHA MENTE, POR SI SÓ ABORTA, UMA POSSÍVEL DECEPÇÃO
DE SAIR PELA PORTA E NÃO ENCONTRAR A VIDA TORTA
MAS PESSOAS NAS RUAS, CALÇADAS E O CHÃO
*
RESTA ENTÃO OLHAR PRO CÉU, FECHAR OS OLHOS E PRATICAR O VERSO
FAZER CONTATO TELEPÁTICO COM O MULTIVERSO
E PERCEBER QUE TODO DIA É DIA DE RENOVAR
TODO DIA A ORDEM É CATALISAR
TODO DIA É VIDA NOVA EM ALGUM LUGAR

*(Ser e Tempo - Martin Heidegger - 1927)

11 de nov. de 2006

*RE-UNIÃO*

ACORDEI COMO QUEM CLAMA
O CORPO FECHADO NA CAMA
UM DIA INTEIRO PRA TRILHAR DE SONHOS
A NOITE INTEIRA EU DORMI COM MONSTROS...
*
O TETO CAINDO ME FORÇANDO ACORDAR
O CHORO, A LEMBRANÇA; CALMA CRIANÇA...
UMA VIDA INTEIRA PRA AMAR,
FLORES E FAUNA PRA CUIDAR...
*
DEBRUÇADO NA JANELA VI QUE MEU CORPO CAMINHAVA
TACITURNO, SORUMBÁTICO, TARTAMUDEAVA,
COMO SE INDAGASSE A EXATA PALAVRA
QUE REVELARIA MEU DESTINO, MINHA CONDIÇÃO
MAS A SOLA DO PÉ NÃO TOCAVA O CHÃO!
SERIA UM ESBOÇO, UM INÍCIO DE LEVITAÇÃO?
GUARDAVA A CERTEZA NO PEITO;
SERIA EU CAPAZ DO FEITO OU ERA SOMENTE ILUSÃO?
NA FORMA CONCEBIDA E NA FORMA CONSTRUÍDA
POR DUAS OU TRÊS VEZES CHAMEI MEU NOME...
FELIZ DE QUEM OLHAVA
A CHUVA LAVAVA E O VENTO LEVAVA
MAS EU MESMO NÃO ME RESPONDI
E FOI PRECISO ABSTRAÇÃO PRA INTUIR
QUE NA JANELA O QUE HAVIA ERA MEU CORPO
E O QUE LÁ DE CIMA VIVIA, ERA MINHA ALMA...
(foto: Bernardo Varela)

4 de nov. de 2006

::SIGLA::

simbolismo dinâmico do entendimento
poesia e neologia cruas ao vento
ao tecido do pensamento...
à calibração da alma...
bato palma na veia
e a vertigem voa...
à saúde virgem
e ao tempo que não volta mais...

3 de nov. de 2006

PREÂMBULO

Lugares abertos pra muitas viagens
Viagens libertas pra muitos lugares
Lugares de cores e brisas queridas
Viagens no Rio já quase esquecidas
Lugares que chamam... Pessoas se amam...
Viagens que chegam... Pessoas se beijam...
Momentos rápidos e infinitos
Movimentos elásticos e desinibidos
Pessoas... lugares...
Viagens sem rumos...
Amigos e amantes
Vivências, semblantes...
Temperatura que sobe quando tu adentra
e o recinto em que me encontro já não mais alenta
Preciso expressar essa doidera...
Que seja ao meu jeito, da minha maneira...
E que seja feliz, uma vez que é vida
Que seja vivida em seu próprio tempo...
Que tenha freqüência e pensamento...
Pra que não sejam somente viagens...
Pra que não sejam somente lugares...
Mas pra que sejam pessoais e singulares...
Bem como o que sentimos...
Em diferentes ares, e diferentes mares...
Em diferentes viagens, e diferentes lugares...

CONTRA-SPIN

O sol a abrir suas asas... uma aura de vidas atrás...
o vento ventando por dentro do peito, ampliando as paixões...
lembro com tristeza do jeito com que a natureza tocava meus pés...
agora não resta nenhum dos Caetés...
foram todos levados a força pro novo mundo chegar
- os embrutecidos pelo tempo e pela falta de cores
traçaram cruéis o destino de um povo...
e mesmo com o passar dos anos,
a terra ainda sente a frieza com que se pisa o monte,
o pasto, a mata...
Mas o sol a raiar suas asas...
e o vento a ventar suas graças... ampliando as paixões...
deixando seus filhos mais altivos,
cantando à alma dos nativos, por toda parte corações...
no desabrochar das flores, no revoar dos pássaros,
nos dedos de uma criança, no riso que me lembra a infância,
nas pequenas canções...
E numa simples caminhada ao redor da magia a vida renasce...
sobrevivendo das pulsões de morte...
sobrepujando as lições de eternidade, da mente e do ser...
organizando o caos... o tenro, o terno, o volátil, o grão...
abrindo com toda minha poesia e o universo em minhas mãos...
E o músculo que pulsa ritmado me mantém acordado pra te ver chegar...
mas tu não chegas de verdade, pois já estavas comigo...
esse velho e nobre amigo...
esse que é irmão da dor...
o que morde e assopra...
o declarado Amor...

BRAHMA

VAZIO???
EU RIO!
FRIO???
NÃO NUM BERÇO NOS BRAÇOS DE BRAHMA
QUE GIRA, GIRA E VIRA A LUZ QUE EMANA
E SE MANIFESTA EM QUEM QUISER DE FORMA BOA
SEJA BEM VINDA A NOVA ERA
AGORA JÁ NÃO MAIS SE CAMINHA... AQUI SE VOA...
E NO EXPERIMENTO QUE SE APRESENTARÁ
O VALOR DA EXISTÊNCIA VAI TER O PESO DA ALMA
E QUEM CORROBORAR COM CALMA
NUM NOVO SER VAI TRADUZIR CERTEZAS
E FRAQUEZAS NÃO MAIS SERÃO PROBLEMAS
NEM DILEMAS
SÓ HAVERÁ ALENTO
POIS O OBJETIVO É UM SÓ
O FIM DO TEMPO
- NÃO SEREI UM SER PELA METADE
NÃO SEREI METADE DA IRMANDADE
SEREI EU NA PLENITUDE DA VERDADE -